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Como saber se estou com depressão pós-parto?

  • Foto do escritor: Psicóloga Maiumi Souza
    Psicóloga Maiumi Souza
  • 6 de out.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de out.

mulher com o bebê


Como saber se estou com depressão pós-parto?

Ser mãe é uma das experiências mais transformadoras da vida, mas também uma das mais intensas. Entre o amor, a exaustão, o medo e a adaptação a uma nova rotina, muitas mulheres se sentem emocionalmente sobrecarregadas nas primeiras semanas após o parto. É comum chorar sem saber exatamente o motivo, sentir-se sensível e até duvidar da própria capacidade de cuidar.

Mas quando esse turbilhão ultrapassa o limite do esperado? Como saber se o que estou sentindo é apenas parte da adaptação ou um sinal de depressão pós-parto?


O que é a depressão pós-parto

A depressão pós-parto é um transtorno de humor que pode surgir após o nascimento do bebê, geralmente nas primeiras semanas ou meses, mas também pode aparecer até um ano depois.Diferente do chamado baby blues (ou tristeza pós-parto), que costuma durar poucos dias e se resolver espontaneamente, a depressão pós-parto é mais intensa, persistente e interfere de forma significativa na vida da mulher e na relação com o bebê.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 em cada 7 mulheres apresenta sintomas de depressão pós-parto.Ela não tem uma causa única: é resultado de uma combinação de fatores hormonais, psicológicos, sociais e biográficos.


Sinais e sintomas que merecem atenção

Alguns sinais podem indicar que a tristeza, o desânimo ou a sensibilidade passaram do ponto esperado da adaptação emocional do puerpério:

  • Choro frequente, mesmo sem motivo aparente

  • Dificuldade de sentir prazer ou interesse pelas coisas que antes gostava

  • Irritabilidade, ansiedade intensa ou sensação de vazio

  • Culpa constante, pensamentos de inadequação ou incapacidade de cuidar

  • Falta de energia, sono alterado (mesmo quando o bebê dorme) e apetite irregular

  • Dificuldade de se conectar emocionalmente com o bebê

  • Pensamentos de desesperança, autodepreciação ou, em casos mais graves, de morte


É importante fazer uma distinção que muitas vezes se perde nas redes sociais e até em algumas abordagens de apoio. Sim, todas as emoções são válidas no puerpério. Raiva, medo, culpa, choro, ressentimento e até pensamentos assustadores podem aparecer.

Mas há uma diferença entre sentir e sofrer. O que precisa ser observado não é apenas o tipo de emoção, mas como ela aparece. Observe a duração e a intensidade desses sintomas. Se duram mais de duas semanas e começam a comprometer o cotidiano, é fundamental buscar ajuda profissional.


Faça o teste: será que é depressão pós-parto?


O questionário a seguir não substitui uma avaliação profissional. Ele tem o objetivo de te ajudar a observar como as emoções estão se manifestando. Responda com sinceridade, pensando nas últimas duas semanas.

Para cada item, marque:(0) Nunca (1) Raramente (2) Às vezes (3) Frequentemente (4) Quase sempre

1. Humor e emoções

  1. Tenho me sentido triste ou chorando com frequência.

  2. A tristeza tem se tornado mais intensa com o passar dos dias.

  3. É difícil interromper o choro quando ele começa.

  4. Tenho pouca variação emocional (fico triste quase o tempo todo).

2. Energia e corpo

  1. Sinto-me exausta mesmo após descansar.

  2. Tenho dificuldade para dormir mesmo quando o bebê dorme.

  3. Tenho notado mudanças no apetite ou no peso.

  4. Meu corpo parece pesado, sem energia ou lento.

3. Pensamentos e autoconceito

  1. Tenho pensamentos de culpa por não ser uma “boa mãe”.

  2. Tenho me sentido incapaz de cuidar do bebê ou de mim mesma.

  3. Tenho me percebido distante de quem eu era antes.

  4. Tenho pensamentos negativos recorrentes ou sensação de vazio.

4. Relação com o bebê e com o entorno

  1. Tenho dificuldade de sentir prazer ou conexão com o bebê.

  2. Às vezes sinto irritação, raiva ou vontade de me afastar.

  3. Tenho me isolado, evitando conversar sobre o que sinto.

  4. Percebo que meu humor interfere no cuidado com o bebê.

Como interpretar

  • 0 a 15 pontos: Oscilações comuns do puerpério. Observe, descanse e mantenha sua rede de apoio.

  • 16 a 30 pontos: Indícios de sobrecarga emocional. Considere buscar escuta psicológica.

  • 31 pontos ou mais: Sinais consistentes de sofrimento psíquico. Procure um(a) profissional de saúde mental perinatal.

O mais importante não é o número em si, mas como você se sente em relação ao que vive. Se percebe que está perdendo o equilíbrio, que o corpo e a mente estão em exaustão, é hora de buscar ajuda.


O que acontece no corpo e na mente

Após o parto, o corpo passa por uma queda brusca dos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que modulam o humor e a energia. Ao mesmo tempo, há sobrecarga física, privação de sono e uma série de novas demandas emocionais.Esses fatores criam um terreno fértil para o surgimento de quadros depressivos.

Mas a depressão pós-parto não é apenas biológica.Ela também está relacionada à forma como cada mulher vivencia a maternidade: suas expectativas, experiências anteriores, rede de apoio e relação com a própria história. Como descreve Daniel Stern (1997), o nascimento do bebê reorganiza a vida psíquica da mãe, reabrindo memórias e redefinindo a identidade.Quando essa reorganização acontece em um contexto de solidão, falta de suporte ou exaustão emocional, o risco de adoecimento aumenta.


O papel da psicoterapia

A psicoterapia é um dos principais recursos para o cuidado da saúde mental no pós-parto.Ela oferece um espaço de escuta, compreensão e reconstrução da mulher, onde é possível nomear o que está sendo vivido e ressignificar a experiência da maternidade.

Em muitos casos, a psicoterapia ajuda a diferenciar o que é adoecimento do que é adaptação emocional. Permite elaborar culpas, reconhecer limites e restaurar o vínculo com o próprio corpo, com o bebê e com a vida.

Quando necessário, o acompanhamento psicológico pode ser integrado ao suporte psiquiátrico, com uso de medicações seguras para o período da amamentação.O tratamento é eficaz e pode devolver à mulher o senso de vitalidade, presença e prazer.


O que você pode fazer agora

Se você se identificou com alguns dos sintomas ou pontuou alto no questionário, saiba que pedir ajuda é um ato de amor, por você e pelo seu bebê. Procure um(a) psicólogo(a) especializado(a) em saúde mental perinatal ou converse com seu médico.Evite enfrentar sozinha o que pode ser cuidado com acolhimento e escuta.

A depressão pós-parto tem tratamento e melhora. Cuidar de si é a base para sustentar o cuidado com o outro.


A maternidade pede rede

Ninguém nasce mãe sozinha. A maternidade precisa ser vivida em rede, com apoio, escuta e presença. Quando essa rede falha, o peso se torna insuportável. A psicoterapia ajuda a reconstruir esse suporte interno e externo, permitindo que a mulher recupere sua potência de existir, sem precisar se anular para maternar.


Referências

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Maternal mental health and child health and development in low and middle income countries. Geneva: WHO, 2008.STERN, D. N. The Motherhood Constellation: A Unified View of Parent-Infant Psychotherapy. New York: Basic Books, 1997.WINNICOTT, D. W. Primary Maternal Preoccupation. In: Collected Papers: Through Paediatrics to Psychoanalysis. London: Tavistock, 1956.KIM, P.; LECKMAN, J. F. Maternal brain plasticity: Adaptation to parenting. New Directions for Child and Adolescent Development, v. 2010, n. 128, p. 47–58, 2010.


Sobre a autora:Maiumi Souza é psicóloga (CRP 03/14948), especialista em Gestalt-Terapia, Desenvolvimento Infantil e Saúde Mental Perinatal.Atua no cuidado emocional de gestantes, puérperas, mães e famílias, com foco em vínculos, autoconhecimento e saúde mental materna.Acredita na importância da escuta sensível, do cuidado ético e da reconstrução de si como parte do processo de maternar.

 
 
 

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